ANÁLISE
DO POEMA MORTE E VIDA SEVERINA
Vinicius
Monteiro
"Morte e vida Severina" foi escrita em 1956, por João Cabral de Melo
Neto, obra que trata da história de Severino retirante de 20 anos, que vai da
Serra da Costela, limites da Paraíba, seguindo o curso do rio Capibaribe com o
objetivo de chegar em Recife.
Na primeira cena, podemos observar a dificuldade da apresentação de Severino, que tenta individualizar-se, mas não consegue fazer essa particularização por existir tantos Severinos iguais a ele. Vejamos os fragmentos da obra: Meu nome é Severino, [...] Severino de Maria; [...] fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. [...] Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?
Na primeira cena, podemos observar a dificuldade da apresentação de Severino, que tenta individualizar-se, mas não consegue fazer essa particularização por existir tantos Severinos iguais a ele. Vejamos os fragmentos da obra: Meu nome é Severino, [...] Severino de Maria; [...] fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. [...] Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?
Com essas palavras podemos observar a grande dificuldade de Severino na tentativa de tornar-se um ser único, distinguir-se dos demais. E devido a esse impedimento o nome próprio, particular Severino, acaba por tornar-se geral, coletivo, pois existem inúmeros Severinos iguais ao Severino. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas.
Nessa citação observamos o fracasso de tentar-se individualizar, por mais que
ele tente ser único, percebe que é igual a todos os Severinos.
E no final da primeira cena, Severino diz que, [...] passo a ser o Severino que
em vossa presença emigra. Mas, assim mesmo, ele é igual aos outros. Quantos
Severinos não emigram?
Dessa forma, o Severino nome próprio acaba-se como um adjetivo generalizando
Severino, torna-se coletivo, geral, sinônimo de pobreza, fome, doença, morte,
dificuldade de sobrevivência, etc. Seja pela vida repleta de impedimentos, seja
pela morte Severina. [...] mesma morte Severina: que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por
dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e
até gente não nascida).
Como colocamos no início deste texto, Severino sai da Serra da Costela, em
busca de vida, melhores condições de sobrevivência, entretanto, o que vê nessa
peregrinação é apenas morte, a única vida é o rio Capibaribe que ele segue,
porém, às vezes, esse rio torna-se estreito, e o protagonista fica com medo de
perder seu único fio de vida.
Já foi mencionado que Severino encontra apenas dificuldades, morte em sua
peregrinação, vale dizer que a única pessoa que está em melhor situação é uma
mulher que trabalha com a morte, vive da morte.
[...] ali, que se não rica, parece remediada ou dona de sua vida: vou saber se
de trabalho poderá me dar notícia. [...] Sabe cantar excelências, defuntos
encomendar? [...] trabalhávamos a meias, que a freguesia bem dá. [...] como
aqui a morte é tanta, vivo de a morte ajudar. [...] uma profissão, e a melhor
de quantas há: [...] Só os roçados da morte compensam aqui cultivar [...].
Após a peregrinação Severino chega em Recife, o retirante senta-se para
descansar ao pé de um muro alto e ouve, sem ser notado, a conversa de dois
coveiros e esse diálogo o afeta muito.
[...] __ Esse povo lá de riba de Pernambuco, da Paraíba, que vem buscar no
Recife poder morrer de velhice, encontra só, aqui chegando cemitérios
esperando. __ Não é viagem o que fazem, vindo por essas caatingas, vargens; aí
está o seu erro: vêm é seguindo seu próprio enterro.
Severino estava ciente de que muita coisa não iria encontrar, pois o que o fez
retirar não foi a cobiça, mas sim, defender sua vida da velhice que chega antes
dos trinta, ou seja, condições melhores para sobreviver, entretanto, ouve essas
palavras, a voz da consciência, e isso o deixa atônito, veio seguindo sua
própria morte. Ele que veio seguindo a vida (rio) e esperava encontrar vida.
Nessa situação, Severino decide morrer “a de saltar, numa noite, fora da ponte
da vida?”, pular da ponte do rio, a única vida que ele encontrou ao longo desse
caminho percorrido até Recife. Mas, nesse momento, nasce um bebê: “saltou para
dentro da vida? / Saltou para dentro da vida [...].
A personagem que havia feito uma pergunta a respeito do seu provável suicídio
ao seu José, mestre Carpina tem a resposta com o nascimento do bebê, vida:
[...] ela, a vida, a respondeu com sua presença viva [...] E não há melhor
resposta que o espetáculo da vida: vela desfiar seu fio [...] mesmo quando é a
explosão de uma vida Severina.
Observamos, nesses fragmentos, além da resposta de Severino entre saltar ou não
saltar da ponte da vida, a questão do próprio título da obra. Por que Morte e
Vida Severina?
Sabemos que tudo que é vivo inicia com a vida, contudo, João Cabral começa uma
obra com a morte, já que a personagem ao longo de sua jornada encontra apenas a
morte, decide morrer, mas no final de sua peregrinação aparece a vida, aquela
criança que nasce, nem que seja para ter um destino Severino, apesar da
pobreza, nasce uma vida e todos ficam felizes e esse acontecimento gera
esperança a nosso Severino, a esperança vem da própria vida. Esse nascimento
muda a vida do herói, pois dá sentido a sua própria vida, vê que a vida ainda
tem sentido.
A história de Severino é a mesma de outros tantos, história de sofrimento,
contada pelo escritor com sensibilidade e crítica social. É muito interessante
o modo como o autor constrói sua poesia, pois converte a miséria, indigência,
fome, secura da paisagem num elemento poético de tal plasticidade, de tal
essência que tudo torna-se de uma beleza inigualável.
E, acima de tudo, a história de Severino de João Cabral termina, porém a dos
demais Severinos continua, porque ainda hoje os retirantes continuam a fugir da
seca do sertão Nordestino.
#Mesmo anos passados do meu primeiro encontro com a obra, ainda fico extasiada com a beleza da sua escrita. Os problemas do Nordeste do Brasil ainda continuam tão ou mais severos desde quando a criação da obra...
#Espero que tenham gostado!
:]
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