terça-feira, 3 de outubro de 2023

Mãe, 14 anos da sua falta

"E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." Mateus 24:12








Quantas vezes já postei essa parte da cozinha aqui?! Algumas vezes isso é certo...
Sempre que me bate aquela saudade, aquele sentimento de que me falta algo, é pra esse tributo que me volto...
E gosto de registrar aqui pra um dia talvez, servir pra alguém da família recordar como esse cantinho retrata quem a dona Inês foi enquanto aqui na terra.
Ela amava sua desejada cristaleira e suas parcas peças de louça que conseguiu amelhear e manter intactas por longos anos... não deixando as desejosas filhas manipularam suas preciosas taças do noivado, as alaranjadas, até que compramos as de vidro comum pra bem de fazermos os brindes de final de ano... assim como o topo da tampa de um dos bules com rosas vermelhas fui eu quem quebrou no afã de limpar e ainda não cumpri o ritual de tentar colar com esmalte...
Quanta falta a sua presença faz!
Seu batonzinho rosa, seu rosto com o pó cashemire booquet, seus esmaltes rosa ou lilás, seus brinquinhos de pérolas ou qualquer outro bem pequenino nas orelhas... 
Do seu amado anel de noivado só restou a lembrança do desgosto ainda em vida.
Seu último par de óculos guardo numa caixa junto com seus documentos. 
Das suas roupas acredito que praticamente todas foram doadas, estão servindo aos vivos.
Da sua aliança de casamento... meu pai deve saber dela.
Suas coisas ainda persistem em se manter, 14 anos após a sua morte.
Até suas cinzas ainda repousam dentro de um saquinho, guardado no esquife em formato de Bíblia que o Crematório nos vendeu, e que nunca saíram de dentro do guarda roupa do seu quarto.
As coisas físicas permanecem, algumas imutáveis. 
Outras com a heresia da poeira tomando conta.
Já as pessoas como mudamos, se nos visse agora, não nos reconheceria.
Estamos muito mais frios, mais impessoais, sem tempo um com o outro, sem assunto, sem vontade, sem sentimentos...
Nem pra falar da senhora nos reunimos...
Estamos todos feridos de alguma forma, o Pai nos afastou, nos dividiu, nos entristeceu.
Nós o afastamos diariamente, nos dividimos e o entristecemos.
Falta-nos o amor de mãe. 
A ternura de mãe. 
A severidade de ensinar o correto, tarefa de mãe.
A senhora não nos permitiria tratar nosso pai da forma que viemos lhe fazendo; a senhora diria: isso não está certo! Corrijam! Amem a seu pai, independente do que ele anda aprontando...
Pois é mãe, a senhora faz falta!
Seus puxões de orelha fazem falta a nós, suas filhas e as suas netas também. 
Elas pouco conversam conosco.
São jovens. Tem seus enamorados. Seus trabalhos. Seus estudos. Não tem vontade de nos dedicar tempo, atenção, carinho.
A seus pais tem a certa medida de obrigação. De se reportaram.
Mas a mim, mera tia?!...
Talvez tenha feito pouco quando podia influencia-las não sei, talvez tenha sido reclusa na minha própria vida, 
O Natal, poxa, minha mãe era católica apostólica romana, achava lindo ser, mas detestava natal, dizia que a época era por demais triste para quem sempre foi pobre; que nunca teve dinheiro pra presentear ou cear com seus próprios pais de forma convencional. Conseguimos dar-lhe bons presentes, roupas, sapatos, perfumes, seus batons, esmaltes, pós, cremes, brincos... fizemos ceias (ou jantares e almoços) com coisas que aprendemos na televisão que faziam parte de uma ceia natalina ou de ano novo...
Hoje, mal nos reunimos obrigatoriamente pro aniversário de um ou outro... passo a primeira metade do ano tentando criar atmosfera festiva pra passarmos uma impressão de que ainda somos uma família no aniversário do pai em junho, e dia dos pais em agosto. 
Mas é assim, assim, na obrigação. 
Agora vem o temido dezembro, teremos de nos reunir ao menos no Natal, se é que algum não vai inventar um compromisso inadiável para poder faltar...
É, parece que nada mais é aquilo que já foi um dia.
E não tenho outro a culpar que a mim mesma.
Sempre que os problemas se apresentam minha solução é enfiar a cabeça no buraco e esperar passar a tempestade...
Resolver não resolvo nada.
Só remedio.
Mãe, quanto mais o tempo passa, mais você faz falta.

Permaneço em oração por mim e por todos da minha família; aquilo que EU não posso fazer coloco nas mãos de Nosso Senhor Jesus Cristo, melhores mãos não há. 
Pai nos ampara com sua misericórdia, que sejamos pacientes uns com os outros, amando e honrando o seu sacrifício na cruz, em nosso favor, pecadores...

MilaResendes 

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