"Ernest Becker escreveu que nossa cultura substituiria Deus pelo sexo e pelo romance. Antes dele, Friedrich Nietzsche tinha uma teoria diferente. Ele escreveu que, com a ausência crescente de Deus na cultura ocidental, haveríamos de substituí-lo pelo dinheiro.
Inúmeros escritores e pensadores têm chamado nossa atenção para “a cultura da ganância” que vem corroendo nossa alma e produzido colapso econômico.
Entretanto, ninguém imagina que a transformação esteja logo ali. Por quê? Porque é particularmente difícil enxergar a ganância e a avareza em nós mesmos.
"Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era rico e chefe de publicanos"
(Lc 19.1,2).
Com pinceladas breves, mas reveladoras, o Evangelho de Lucas nos apresenta Zaqueu.
As pessoas chamavam Zaqueu de “pecador” (Lc 19.7), que signicava apóstata ou pária.
Por que alguém aceitaria um emprego de cobrador de impostos? O que poderia seduzir um homem a trair a família e o país e viver como um pária da própria sociedade? A resposta? O dinheiro.
Paulo diz que a avareza é uma forma de idolatria (Cl 3.5; Ef 5.5). Lucas nos ensina a mesma verdade em seu Evangelho.
Em Lucas 12.15, Jesus diz aos ouvintes:
“… Cuidado! Evitai todo tipo de cobiça; pois a vida do homem não consiste na grande quantidade de coisas que ele possui”.
O que é cobiça? No contexto próximo de Lucas 11 e 12, Jesus advertiu o povo acerca da preocupação com suas posses.
Para Jesus, a cobiça não é apenas o amor ao dinheiro, mas a ansiedade excessiva por causa dele.
Jesus explica a razão de termos as emoções tão poderosamente controladas por nossa conta bancária
— “a vida do homem não consiste na grande quantidade de coisas que ele possui”.
“Consistir” em relação a bens é ser definido pelo que se tem e consome.
O termo descreve a identidade pessoal com base em suas posses e consumo.
Refere-se a pessoas que, se perderem o patrimônio, não lhes restará um “eu”, pois o valor pessoal delas se baseia em seu valor nanceiro.
Em uma passagem posterior, Jesus é mais direto e dá nome aos bois.
"Nenhum servo pode servir a dois senhores, pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Os fariseus, que eram gananciosos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele. Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justicais diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois o que é elevado entre os homens, perante Deus é abominação"
(Lc 16.13-15).
Jesus usa todas as metáforas bíblicas padrão para a idolatria e as aplica à ganância e ao dinheiro.
De acordo com a Bíblia, os idólatras fazem três coisas com seus ídolos.
Amam-nos, confiam neles e lhes obedecem.
Os que “amam o dinheiro” são aqueles que se acham sonhando acordados, fantasiando com novas maneiras de ganhar dinheiro e com novos bens para comprar e olhando com inveja para quem tem mais do que eles.
Os que “confiam no dinheiro” sentem ter o controle da própria vida e estar seguros e garantidos por causa de sua fortuna.
A idolatria também nos torna “servos do dinheiro”. Como servimos reis e magistrados terrenos, assim “vendemos a alma” a nossos ídolos. Ao buscarmos neles significado (amor) e segurança (confiança), precisamos tê-los e, portanto, somos motivados a servi-los e, essencialmente, obedecer-lhes.
Quando Jesus afirma que “servimos” ao dinheiro, usa uma palavra que indica o serviço solene oferecido a um rei e fundamentado em uma aliança.
Se você vive para o dinheiro, é um escravo dele.
Se, no entanto, Deus se torna o centro de sua vida, isso destrona e rebaixa o dinheiro.
Se sua identidade e segurança estão em Deus, as riquezas não podem controlá-lo por meio da preocupação e do desejo.
É uma coisa ou outra.
Ou você serve a Deus ou se entrega à escravidão a Mamom.
"[Zaqueu] tentava ver quem era Jesus e não conseguia, por causa da multidão e porque era de pequena estatura. Correndo na frente, subiu num sicômoro a m de vê-lo, pois Jesus tinha de passar por ali. Quando chegou àquele lugar, Jesus olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje tenho de car em tua casa. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria. Ao verem isso, todos criticavam, dizendo: Ele foi ser hóspede de um homem pecador"
(Lc 19.3-7).
“Ele tentava ver quem era Jesus…”.
Zaqueu estava ansioso para ter um relacionamento com Jesus.
Ansioso pode ser uma palavra branda demais.
A prontidão com que escalou a árvore indica algo mais próximo do desespero.
Zaqueu não se aproximou de Jesus com orgulho, mas com humildade.
Não se valeu de sua dignidade e riqueza; antes, deixou de lado sua condição de vida e se dispôs a ser ridicularizado a fim de ter um vislumbre de Jesus. No fim, não foi Zaqueu que convidou Jesus a entrar em sua vida, mas Jesus que o convidou a entrar na sua.
"Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Vê, Senhor, darei aos pobres metade dos meus bens, e, se prejudiquei alguém em alguma coisa, eu lhe restituirei quatro vezes mais. Disse-lhe Jesus: Hoje a salvação chegou a esta casa, pois este homem também é lho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido"
(Lc 19.8-10).
Zaqueu queria seguir Jesus e logo constatou que, se o fizesse, o dinheiro seria um problema.
Por isso, fez duas promessas extraordinárias.
Jesus tinha substituído o dinheiro como salvador de Zaqueu, de modo que o dinheiro voltou a ser simplesmente dinheiro.
Agora, ele era um instrumento para fazer o bem, para servir às pessoas.
Agora que a identidade e segurança de Zaqueu estavam fundamentadas em Cristo, ele tinha mais dinheiro do que necessitava.
A graça de Deus havia transformado sua atitude para com a própria riqueza.
A solução para a mesquinhez é a reorientação para a generosidade de Cristo no evangelho, observando como ele derramou sua riqueza por você.
Agora, você não precisa se preocupar com dinheiro — a cruz demonstra o cuidado de Deus por você e lhe dá segurança.
Você não precisa mais invejar o dinheiro dos outros.
O amor e a salvação de Jesus lhe concedem uma condição extraordinária que o dinheiro não pode lhe conceder.
O dinheiro não pode poupá-lo da tragédia ou lhe dar o controle em um mundo caótico.
Só Deus tem poder para isso.
O que interrompe o poder do dinheiro sobre nós não é apenas o esforço redobrado de seguir o exemplo de Cristo.
Antes, é o aprofundamento do seu entendimento da salvação de Cristo, do que você tem nele e, depois, a prática das mudanças que esse entendimento provoca em seu coração — o centro de sua mente, vontade e emoções.
A fé no evangelho reestrutura nossas motivações, o entendimento acerca de nós mesmos e de nossa identidade, nossa cosmovisão. O consentimento comportamental com as regras sem uma transformação completa de coração será supercial e passageiro."
Trecho do Cap 3 do livro deuses Falsos, Timothy Keller.
MilaResendes
Nenhum comentário:
Postar um comentário