sexta-feira, 8 de julho de 2011

E do lambe-lambe, lembra?


O fotógrafo lambe-lambe é um profissional em extinção; ele desenvolve uma atividade que foi superada pela tecnologia e pela pressa que impera em nossa vida.

Semana passada tive a oportunidade de ver uma reportagem no Jornal da Record, sobre o fotógrafo lambe-lambe e mesmo sem ter conhecido um (!) sou uma saudosista nata e fiquei super afim de saber mais sobre eles...

Curte aí...

Tal qual registrou o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson: "de todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-las voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória".

Foi o gesto, mágico e furtivo do fotógrafo de jardim, que para identificar a emulsão, impressionava tanto os populares que nada conheciam sobre a arte da luz e sombra, é que acabou dando o nome de lambe-lambe para essa atividade profissional.

Com a popularização das câmeras fotográficas e a facilidade de suas operações técnicas, bem como a disponibilidade dos recursos de processamento químico e produção das cópias, o tradicional ofício do fotógrafo de jardim está em vias de extinção. Com isso, desaparecerá o seu saber técnico, sua capacidade de improvisar e sua criativa ação documental, fragmentos imprescindíveis para a compreensão do desenvolvimento da história da fotografia no Brasil.

Esse fotógrafo desenvolvia seu trabalho com uma câmera-laboratório: uma caixa de madeira dotada de uma objetiva ( a alma da boa imagem) apoiada num tripé. A câmera era dividida em duas partes, sendo que a inferior continha os dois banhos, revelador e fixador, que eram utilizados ao mesmo tempo, para o processamento químico de filmes e papéis.

O que importava para o lambe-lambe era a luz intensa, já que ele não trabalhava com chuva. Sua presença na Praça era referência do sol, índice que garantia a alegria de todos os frequentadores da Praça durante o dia. "Para ser um bom retratista era preciso ficar de olho nas nuvens", dizia-se nos anos 20, 30 e 40, considerado o período de ouro da atividade profissional do fotógrafo lambe-lambe, que se instalou nas praças e jardins públicos do Brasil nos idos de 1915 e durante mais de três décadas retratou as mais variadas situações e os mais variados tipos humanos.

A partir dos anos 50, o fotógrafo lambe-lambe passou a produzir somente retratos para documentos, tipo 3X4 cm, a fim de atender a demanda da nova clientela, deixando de produzir os retratos que caracterizavam situações de maior diversidade temática e maior riqueza iconográfica. Desde o início, a produção dessa atividade profissional, descartada e desvalorizada pelos estúdios fotográficos que garantiam qualidade técnica e pretensão artística, ficou tão dispersa e esquecida, que ainda hoje é difícil reunir uma coleção que esgote o universo intuitivo e criativo do nosso fotógrafo de jardim.

Foi-se o tempo do fotógrafo lambe-lambe, que trouxe a alegria para os Jardins das cidades, e parcialmente substituiu a rigidez da fotografia de estúdio, predominante até a primeira década deste século. Para Boris Kossoy, "do vestir-se bem para tirar fotografia até o final do processo efetuado pelo fotógrafo dos parques e jardins, restam-nos as imagens envelhecidas de rostos, penteados e trajes, aspirações sérias e meditativas dos retratados, e ainda como resultado final (a foto), valores estéticos embora repetitivos de um modo de ver, precioso documento estético-social."

Resta-nos agora contemplar as imagens desses desconhecidos íntimos e tentar entender, nas milhares de fotografias esmaecidas produzidas pelo lambe-lambes, hoje esquecidas ou desprezadas em velhas caixas, os fios que tecem a história da fotografia no Brasil.

*Rubens Fernandes Junior, Diretor da Faculdade de Comunicação, Professor de Teoria da Comunicação, Pesquisador e Crítico de Fotografia.

DESCONHECIDOS ÍNTIMOS * O imaginário do fotógrafo lambe-lambe


E você, chegou a conhecer um lambe-lambe? Conta aí...

:)

3 comentários:

Ana disse...

Adoro fotografia mas infelizmente não conheci nenhum lambe-lambe. Nem sei se cá em Portugal havia esses fotografos.
beijinhos

Milaresendes disse...

Também não tive a oportunidade de ver um lambe-lambe ao vivo, mas assisti alguns em filmes...
Tenho uma certa nostalgia com esses profissionais do passado que estão em extinção...

HERMES PERDIGÃO disse...

Alguns Grupos, tornaram a Caixa de lambe um Mini Palco para o Teatro de Bonecos, início Ismine Lima e Denise Santos da Bahia, outros vieram. Já houve Festivais em Santa Catarina (Grupo Anjos da Noite), Joinvile e Festim em Belo Horizonte (Grupo Girino). www.bonecoshermes.blogspot.com