Nossa família não chegou a traí-lo; esse papel coube à saúde dele.
Ele havia acabado de se aposentar.
O meu pai e a minha mãe tinham guardado algum dinheiro e feito planos. Eles pretendiam visitar vários parques nacionais em um trailer.
Foi quando veio o diagnóstico: esclerose lateral amiotrófica (ELA ou doença de Lou Gehrig), uma doença degenerativa grave que afeta os músculos.
Em alguns meses, ele já não conseguia comer, se vestir nem tomar banho. O mundo como ele o conhecia havia desaparecido.
Naquela época, eu estava me preparando para fazer um trabalho missionário no Brasil com a minha esposa, Denalyn. Quando recebemos a notícia, logo me ofereci para mudar os planos. Como poderia deixar o país enquanto o meu pai estava morrendo?
A resposta do meu pai foi imediata e repleta de confiança. Ele não costumava escrever cartas longas, mas essa preencheu quatro folhas.
"A respeito da minha doença e da sua ida ao Rio [de Janeiro]: essa resposta é bem simples para mim, e ela é... Vá. Não tenho medo da morte, nem da eternidade [...], portanto, não se preocupe comigo. Apenas vá. Faça a vontade dele."
Papai perdeu muito: a saúde, a aposentadoria, os anos com os filhos e netos, os anos com a esposa.
A perda foi dura, mas não foi completa.
“Pai”, eu poderia ter perguntado, “o que você tem que não pode perder?”
Ele ainda levava o chamado de Deus no coração. Costumamos nos esquecer disso no caminho para o Egito.
Anos depois da morte do meu pai, recebi uma carta de uma mulher que se lembrava dele. Ginger tinha apenas seis anos quando a sua turma na escola dominical fez vários cartões desejando uma boa recuperação para os membros da nossa igreja que estavam enfermos. Ela havia feito um cartão de papelão roxo brilhante e o enfeitara cuidadosamente com uma moldura de adesivos. Dentro do cartão, ela escreveu: “Eu amo você, mas Deus ama você acima de tudo.”
A mãe dela fez uma torta e as duas foram fazer a entrega.
Papai já estava acamado.
O fim estava próximo.
A mandíbula dele costumava pender, fazendo com que ficasse de boca aberta.
Ele conseguia estender a mão, mas a sua mão já não passava de uma garra retorcida por causa da doença.
Sabe-se lá como, mas Ginger acabou ficando sozinha com ele em algum momento e fez uma pergunta daquelas que só as crianças de seis anos podem fazer: — Você vai morrer?
Papai estendeu a mão e pediu que ela chegasse mais perto.
— Sim, eu vou morrer.
Quando?
Não sei.
Ela perguntou se ele estava com medo de ir para longe.
— Longe é o Céu — respondeu ele. — Vou ficar com o meu Pai. Estou pronto para vê-lo olho no olho.
"Pouco depois, a minha mãe e a mãe de Ginger voltaram ao quarto.
Na carta, Ginger conta: A minha mãe consolou os seus pais com um sorriso amarelo no rosto.
Mas eu lhe dei um sorriso enorme, lindo, um sorriso de verdade, e o seu pai fez o mesmo e piscou para mim."
"O propósito pelo qual conto tudo isso é que vou com a minha família para o Quênia. Vamos levar Jesus para uma tribo perto do litoral. Estou com muito medo pelos meus filhos, porque sei que haverá dificuldades e doenças.
Mas, quanto a mim, não estou com medo, porque sei que o pior que pode acontecer é eu ver o “meu Pai olho no olho”.
Foi o seu pai que me ensinou que a terra é apenas uma passagem e que a morte não é mais que um renascimento."
Um homem, no leito de morte, piscando ao refletir sobre o fim.
Desprovido de tudo?
Só parecia assim.
No fim, papai ainda tinha algo que ninguém conseguiu tirar.
No fim, era tudo de que ele precisava."
Trecho do Cap. 2 do livro Você vai sair dessa!, Max Lucado.
MilaResendes
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